domingo, 27 de dezembro de 2009

O (patético) caleidoscópio humano

Os seres humanos tem manias bizarras, não?
Possivelmente aqui ninguém sabe que tenho pânico de avião. Pois é. Clichê, mas tenho.
Desde os meus 9 anos, quando caiu aquele Fokker 100 da TAM. Lembro que umas duas semanas depois da tragédia fomos visitar minha família no Rio, e ÓBIVO que fomos num Fokker 100. Naquela vez só consegui me acalmar quando a comissária me levou até a cabine do Comandante e ele me garantiu que estava tudo bem e que já estávamos prestes a pousar.

Desde aquela vez nunca mais consegui viajar tranquilamente. Fiz vários tratamentos, tomei remédios que nunca fizeram efeito e outros que até ajudaram, mas a verdade é que só conseguia voar tranquilamente quando me concentrava e via a "besteira" que nosso psicológico pode ser. E como é tão fascinante, a ponto de nos pregar peças, e ser mais forte que a gente, como se fosse algo a parte, em anexo.
E é incrível, mesmo. O medo todo é completamente inútil, pelo menos no meu caso. E eu tenho toda certeza do mundo que é desnecessário, mas não é absurdo como a gente não consegue vencer alguma coisa que não é visível, que é apenas interna?
Lembro que lá pelos meus 12 ou 13 anos eu tentava me concentrar, me distrair... e para tal lembro que rezava sem parar, achando que ia adiantar. E o pior, é que nunca rezava Ave Maria, porque dizia “agora e na hora de nossa morte”. HORA DE NOSSA MORTE? Achava absurdo eu pedir ajuda na hora da minha morte. E, por isso, repetia o Pai Nosso incansavelmente, porque dava pra pedir pra que fosse feita “a vossa vontade”... quem teria vontade de um desastre aéreo? Nãaao, nem pensar, impossível. E patético.

Agora já no chão, e sem planos de voar tão cedo, fico pensando nesse meu medo idiota, que poderia ser BEM pior se fosse pânico de sair na rua, por exemplo. Que, cá entre nós, seria muito pior... Imaginem se cada vez que eu colocasse o pé na rua tivesse que me concentrar pra não sair correndo!

Analisando todos os fatos, a cada dia tenho mais certeza, e não me restam dúvidas que a mente das pessoas é uma coisa bizarra, mas genial. Terráqueos são complicados, intrigantes, confusos... Um caleidoscópio, já diria um conhecido meu.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Seja maduro: apague a ilusão de quem tem caráter tem tudo na mão

Apesar de o ter deixado de lado algumas vezes, caráter é algo de extrema importância.

É bom amarrar um numa cordinha e levar pendurado no pescoço, pra não perder.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Para não dizer que não sou melosa.

Quinta-feira, 03 de dezembro de 2009. Data marcada para o segundo show da banda Móveis coloniais de Acaju em Porto Alegre.

Infelizmente, também data do dia em que trabalhei por 15 horas seguidas e fui obrigada a fazer o trajeto pra casa em tempo recorde, pra não perder tal apresentação. Mas isso não vem exatamente ao caso.



Assumo nunca ter sido fã assídua de MCA. Lembro que os conheci na mesma época em que descobri Vanguart, e naquela época Hélio Flanders me pegou pela mão e me levou embora. Até tinha o Idem (primeiro álbum do Móveis) perdido pelo meu computador, mas ouvi muito pouco, verdade.
Apesar disso, sabia que o show deles era considerado imperdível, e me senti como o último ser humano da Terra quando perdi a primeira apresentação dos brasilienses em solo gaúcho, no Gig Rock do ano passado.


Mas esse ano, quando fiquei sabendo que tocariam no Porão do Beco, não deixei escapar. Cheguei cedo, enfrentei fila, fiquei muito tempo em frente ao palco, em pé, sem sair do lugar, esperando o espetáculo começar. E sim, que belo espetáculo!


Nos primeiro minutos de show me perdi um pouco do mundo. Na verdade, a sensação ali era de que só aquele lugar existia. Esqueci que tinha trabalhado demais, que tinha gente me empurrando, que fazia muito calor e até mesmo nem lembrava que teria que estar às 7h30 no trabalho no dia seguinte.

Não sei se era a música, a banda em si, o clima, ou as pessoas ao redor. Só sei que entrei em êxtase, como se estivesse anestesiada.


Tá, agora você pensa “nossa, quando exagero só por causa de um show!”. Tudo bem, eu também achava isso quando várias pessoas vinham me falar de que o show dos caras era divino. Mas eles conseguiram superar TODAS minhas expectativas. E elas não eram poucas!


Fazia muito tempo que não me divertia desse jeito, e que não me entregava tanto a um show. Aliás, acho que nunca vi uma banda tão boa em palco. Sou fã de vocalistas carismáticos (Acho essencial, na verdade), mas assumo ter ficado boba por ter que lidar com uma banda INTEIRA de puro carisma. Eles pareciam ter tanta confiança uns nos outros, por ficarem andando em círculos no palco, sem saber direito o próximo passo a tomar. Mas talvez sejam apenas loucos. Viviam cada segundo ao máximo, e isso era notável cada vez que sorriam e tiravam com a cara de alguém da banda, durante alguma canção.


Me senti um pouco boba, verdade, por saber apenas umas 5 canções num set list de umas 15 músicas, em que o público cantou todas, sem parar, às vezes soando até mais alto que o vocalista, André Gonzales. Mas a verdade é que você não consegue não entrar na brincadeira deles. É como se você comprasse uma passagem pra uma viagem, e não pudesse parar na metade do trajeto. Você não consegue. E também não quer.


Fico realmente feliz em ver que temos uma banda com tanta qualidade em nosso país, e mais ainda, que está no caminho de ter o reconhecimento que merece. Pois todo mundo deveria ouvir Móveis. E por mais que por um instante passe por nossas cabeças “Imagine um dia que tocarem num lugar grande, como o Opinião. Será que a apresentação perde a magia?” a gente logo se dá conta de que esse egoísmo é tolo, e que TODOS mereciam pelo menos uma noite de Seria o rolex?, a roda em Copacabana, a chuva de papel em Adeus e o encanto de O Tempo.


Saí do Porão sem sentir meu corpo. A perna parecia não querer obedecer o cérebro, mas consegui chegar em casa. Acordei ainda sob efeito do show, sem conseguir assimilar o que havia acontecido.

Agora, às 23h de Sexta-feira, dia 4, sigo do mesmo jeito. Mole de sono, cansada por culpa de mais 15 horas de trabalho que resolveram atrapalhar meu dia. Mas embriagada pela magia de ter visto, certamente, um dos shows mais fantásticos da minha vida.