quinta-feira, 11 de julho de 2013

Torto

Ele me olhou com um olhar de saudade, como quem sente falta do que há muito tempo deixou escapar.
Nós ainda rimos das mesmas histórias, se cuidando de canto, não deixando escapar nenhum detalhe.

Ele me contou das frustrações da vida.
E Eu torci em silêncio pra que desse tudo certo, do jeito que sempre fiz.

Na despedida, ele pediu pra eu não sumir.
Eu pedi pra gente se ver mais vezes.

A vida nos embaralhou.
Fez a gente se perder.
Mas, de alguma forma, a gente se esbarrou no caminho.
No fim, nos encontramos aonde sempre deveríamos estar.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Pertenci, pertenceste, pertenceu.



Eles terminaram lá por janeiro, um pouco antes dela começar naquele emprego novo.
No domingo que antecedeu a segunda-feira desse novo passo, decidiu arrumar o armário, se livrar das coisas velhas, abrir mão do que a lembrava dele.

Mas, foi separando camisetas e moletons, que ela só lembrou cada vez mais.
Tudo tinha seu rosto, seu cheiro, sua cara. Ele.
Lembrou daquele casaco do dia em que ele a levou pra jantar e o ar-condicionado do restaurante estava muito forte.
E daquela camiseta que ele emprestou quando dormiram juntos pela segunda vez.

Claro que vinha pela frente um novo começo. A vida é cheia deles.
Mas não dá pra simplesmente apagar os nossos passos antigos como se tivéssemos pisado na areia.

Nenhum "novo" é igual a um antigo.
E mesmo que ela conhecesse alguém diferente, um colega de trabalho, talvez, ou até um cara que almoçasse no mesmo lugar que ela... mesmo assim, ela não ia poder desaparecer com o passado.
E, obviamente, não seria essa limpeza no armário que ia fazer tudo mudar.

A verdade é que, mesmo que o simbólico ajude, o que é nosso vai ser nosso pra sempre. O "nosso" nosso. Só nosso e de mais ninguém.

Ela guardou tudo de volta no armário.
E se deixou levar sabendo que ninguém vai substituir o que já foi.

O que nos pertence é infinito.



terça-feira, 23 de abril de 2013

Trilátero

A Paula nunca gostou da Maria. Mas a verdade é que a Maria nunca tinha feito nada pra Paula. Nada além de existir.

A Paula gostava mesmo era do Mateus.
Ele era lindo... com um olhar que talvez não dê pra colocar em palavras.

E o Mateus até gostava da Paula, mas ele também gostava da Maria... que não queria nada com ele.

Logo a Paula e o Mateus ficaram juntos. Foi quase na mesma época que a Maria começou a gostar dele.
Foi aí que ele largou a Paula pra ficar com a Maria.

E foi então que a Paula soube...
Ela soube o que já sabia.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Lado de lá


"E morrer?"
Ela perguntou, assustada.
"Nem deve ser tão ruim." respondeu. "Olhe ao redor: alguma coisa aqui ainda te anima?"

"Não..."

Sorriu. "Então. Quem sabe não tem coisa melhor do lado de lá?"

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Surra


Uma vez eu tentei, mas acho que tentei errado.
O problema é tentar alguma coisa que você não sabe o que é.

Acho que há algum tempo eu venho com essa sensação de não saber o que quero ou o que devo fazer. Como se tivessem me largado perdida em um labirinto.
“Vai lá e te vira”.
E olha quanto já andei pra nunca chegar ao fim. E quantas vezes eu só quis dar meia volta e tentar recomeçar.

Não sei quando foi que eu me perdi assim. Quando eu perdi o controle do jogo. Quando entrei no automático.
Um empurrão nas costas. “Caminha e não olha pra trás”.
No fim a gente se acostuma com a sensação de ser acostumado com o que não devia se acostumar. E o tentar errado vale, porque foi uma tentativa, eles dizem.

Talvez meu labirinto não tenha fim.
Talvez seja só uma piada pra alguém rir e apontar. “Olha lá como ela não consegue resolver”.

E eu tento.







E eles riem.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Papel



Tremeu, como tremia sempre.
Temia.
Era medo de quê?

Não dava mais.

Ele me ligou esses dias, pedindo um pouco de atenção. Desliguei o telefone aos prantos, por me sentir fraca, incapaz, inútil. Mais uma vez.

Podia parecer qualquer coisa, na verdade nem eu sabia bem o porque de tudo aquilo.
Enter e esc, pra variar.

Havia chovido e eu era um papel jogado no chão.
Molhado, eu não tinha mais utilidade.

Nem pra ele, nem pra ninguém.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Do tempo


Mais uma vez, como todas as outras vezes. Como todos os anos, como todos os dias. 
Talvez seja uma arte. Talvez seja só besteira. 
Mas devia ser admirada. 
Quanto alguém merece por segurar um choro? O choro da mesma dor de sempre. O mesmo de tempos atrás.
Toda hora a mesma sensação, a sensação que tinha certeza que um dia ia passar, que uma hora ia embora. 

Deixou o tempo cuidar de tudo, mas será que o tempo anda tão ocupado assim?

De novo, de novo e de novo. 
Segura o choro e não assume nossa verdade.

“A gente vai conseguir, a gente vai conseguir...”