sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Santa Maria

Não posso contar nada pra ninguém.
Não posso porque aqui ninguém sabe guardar segredo. Todo mundo tem um comentário a fazer. Todo mundo acha que tem que saber de tudo. E sempre tem mais alguém querendo saber...

Então, fico calada.

Não é uma questão de não confiar nas pessoas. É só se acostumar com a idéia de que aqui ninguém é realmente teu amigo.
São companheiros. Companhia pra festa, companhia pra trabalho, companhia pra ir ali tomar um café...
Mas amizade mesmo, aquelas em que a pessoa te escuta, te ajuda, e fica com aquilo pra ela... isso não existe.

Fico calada mais uma vez.


Vou costurando os lábios pra não falar, vou sempre remendando porque uma hora uma palavrinha que outra sempre escapa.

Preciso me acostumar com a idéia de que estou sozinha neste barco. Ninguém vai me ajudar a remar assim, de graça. Sempre esperam algo em troca. Sempre querem mais.


Sou daquela época em que a gente chorava no colo, abraçava pra passar dor e amava só por amar.
Hoje tenho que aceitar que aqui, as pessoas falam sem lembrar que existem outras, que as pessoas não sentem, apenas agem.


Somos todos marionetes nas mãos daqueles que nunca aprenderam o verdadeiro significado de tudo isso.




Preciso voltar.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Daruma caolho

Ela precisava de tempo.
Queria pensar e pesar o que valia a pena.

Se sentia sozinha pois não fazia parte daquele mundo de faz-de-conta. Tinha medo de ser igual àquele exército de robôs, todos idênticos, todos falsos.
Tudo era de mentira. De plástico, sem carne e nem alma.
Os olhares amigáveis, na verdade eram vazios, mascarando a verdadeira face de quem só queria passar por cima e se aproveitar de quem parecia tantas vezes se importar.

Nunca havia sido assim. E sempre foi atrás do que parecia seguro e verdadeiro, mas nunca encontrava. Preocupada com tantos erros ao seu redor, tinha medo até da própria sombra.

Via a vida como uma montanha-russa.
Não pelos altos e baixos, mas por se perder um pouco no caminho. Era tudo tão rápido, que já não conseguia acompanhar. Se perdia nos dias, vivia no automático e já nem fechava os olhos nas quedas.

E se a mentira e o disfarce eram tão necessários, ela também se escondia.
Sorria.
E nunca ninguém sabia o que ela realmente queria dizer.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Pulso firme e ambição

Às vezes, eu só quero que você me escute.
Que me leve a sério, que aceite o fato de que estou certa (e você sabe que estou).
Sabe aquela sensação de acordar pela manhã, feliz por ter sonhado com algo tão bom que chega a ser real? Você é esse sonho bom que, quando acontece, a gente sempre quer dormir de novo pra voltar pra ele.

E eu faria o que fosse preciso pra te fazer o bem que você me faz. Meu sorriso é um reflexo do teu. E meu coração, cheio, usado, sufocado, não vai desistir.

A gente sabe que vai demorar.
Mas, enquanto isso, segura forte na minha mão. Eu não vou sair daqui.
Porque muitas pessoas passam a vida toda buscando uma pessoa como você. E eu tive a sorte de te encontrar.





Isso daqui é real. E é pra sempre.

Bela adormecida

Todos as noites, enquanto penteia os longos cabelos loiros, se olha no espelho e se pergunta o que deu errado dessa vez.
Novamente ia dormir vazia, mas não por ter pulado o jantar como sempre fazia, mas por não ter nada pra completar aquele espaço em branco que já nem sabia como arrumar.

Deitou sozinha. Acostumada com a solidão, se perdia na tentativa de tentar se encaixar.
E quando fechou os olhos, separou todos os seus fracassos dentro daquela caixa imáginária de tarja preta que guardava na cabeça.

Ela sabia que, quando acordasse, seria mais um daqueles dias em que caminharia sem nem saber mais quem ela é.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Segundos

Você vai me conhecer, vai gostar de mim.

Vai me achar genial, única.
Forte, independente, engraçada, aquela que não dá bola pro que os outros pensam, aquela que prefere sorrir a se incomodar.

Você vai comentar com seus amigos que eu sou aquela que você achou que nunca iria encontrar.
E eu vou voltar pra casa, sabendo que estamos apenas adiando o que eu aprendi que seria o fim de todas minhas relações.


A verdade é que, com o tempo, você vai ver que sou fraca, dependente, me preocupo com os outros, me incomodo e não sou, nem de longe, aquela que você queria pra você.

Me escondo numa casca confortável pra não te decepcionar logo de primeira.
Evito a mim mesma, pra não ter que lidar com o que não suporto mais.

Sempre estrago tudo.


Aí vai de você: desistir, como todos fizeram;
Ou tentar mais uma vez, segurar na minha mão e dizer que vai comigo, independente do que aconteça.

Porque, às vezes, eu deixo você olhar através da máscara. E talvez seja por essa que você venha a se apaixonar.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Sobre calçadas e corações

Você já parou pra pensar que TALVEZ o grande amor da sua vida pode estar a alguns passos na sua frente na calçada, mas vocês nunca vão se cruzar porque você está sempre caminhando pra trás?



Eu nunca tinha pensado assim, porque me condicionei sempre a me afastar. Meus passos são sempre distantes, não me aproximo pra assim não tropeçar.

Tratei de arriscar.
Caminhando mais rápido, perdi o equilíbrio e cai. Fracassei ao tentar te seguir. E você partiu, rápido, atingiu o "longe", daqueles em que a gente já não consegue mais nem enxergar a sombra de tão afastado.

Sozinha, deixei que alguns passos acompanhassem os meus.
Mas foi pouco.

Tenho medo de tropeçar e cair de novo. Não vou dar conta de mais um arranhão.

Assustada, já nem caminho mais.
Paralisei.

Parada, deixo o mundo todo passar enquanto fico pra trás.


E lá se vão todos os amores da minha vida, escapando pelas minhas mãos.
Fugindo da minha visão.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Outubro ou nada

Esta sou eu dando uma chance a coisas que certamente passariam despercebidas. Com o peito aberto, sem esperar nada em troca.
Tô tentando, de certa forma, lidar com a surpresa. Deixando que me supreendam, que me mostrem que estou errada.

Quero ser contrariada, quero ouvir com todas as letras que estive equivocada.
Cansei um pouco de abraçar tantas manias, costumes e vontades que não me levaram a lugar algum.

Já faz um bom tempo que venho tentando seguir minha vida e deixar meu passado amargo pra lá. E é engraçado quando vejo que consegui.
Dou risada quando meu coração bate de felicidade, quando eu olho nos teus olhos e não sinto mais vergonha (e nem mesmo ódio).

Atingir esse ponto, o de conseguir deixar tudo pra lá e ser um pouco mais egoísta, pensando mais em mim e menos no que os outros fizeram um dia, tá me fazendo bem.

Resolvi deixar pra lá o todo mundo.

Agora somos nós.


quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Trem

É muito, é demais. É insuportável e destruidor ter que fazer o mesmo trajeto sempre. Dou os mesmos passos, cansada, com os olhos vendados e as mãos amarradas, já conformada em saber que não há mais solução.

Dói pisar nestes cacos do passado, que trilham meu caminho de volta cada vez que caio.

E nessas horas só penso em me concentrar, focar a saída, tentar, de todas as formas, largar da tua mão e conseguir seguir.
Já consegui avançar muito. E não é agora que vou desistir.

domingo, 3 de outubro de 2010

A única coisa que resta é tudo

Grite tudo aquilo que você sempre guardou pra si.
Vai ser satisfatório? Vai tirar o peso das tuas costas? Você vai dizer tudo o que sempre quis ter dito?

Você repete sempre o que sente, em palavras diferentes, formatos distintos.
Sempre a mesma coisa, a mesma dor, nenhuma mudança. Você engole o choro, te faz de satisfeita e sempre sonha com dias distantes, que nem sabe se de fato existem.

E como fazer pra explicar tudo, como dizer toda a verdade sem precisar voltar lá de novo?

Pra que voltar? Pra que andar em circulos?

Gira, gira, gira...
Cada vez mais rápido, cada vez mais anestesiante. A ponto de não se sentir nem tonta, nem mal, nem nada.

Você fecha os olhos com força e no fim é apenas uma cópia de tudo aquilo que já foi.

No auge da duplicação, triplicação, transformação idêntica de você mesma, a velocidade em que gira se torna sua pior inimiga. Presa em você mesma, não pode nem tentar sair. Quando tentar dar um passo a frente, vai se perder no impulso, correr o risco de cair.

A gente não pode ir contra as leis da física.

Mas a gente pode girar mais devagar.