sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Manual de superação

Ela nunca foi de guardar rancor, e no mundo dela, isso era muito bom.
Mas sempre tinha ódio de alguma coisa, e se controlava pra não ser tomada pela raiva ridícula desse tal orgulho idiota que todo dia teimava em aparecer.

Odiava ele. E NOSSA, como odiava. Ódio infantil, com vontade de vingança pré-escolar, de puxar cabelo e colocar o pé pra tropeçar.
Mas preferia o silêncio, porque não tinha coragem, não podia... e também nem queria...

Odiava o fato dele também ir aos mesmos lugares que ela.
As mesmas festas, os mesmos amigos, tomar da mesma cerveja, comer da mesma comida, "O QUE ELE FAZ AQUI?".
Saía na esperança de não lembrar, mas ele estava sempre lá.
Mas ela era uma completa idiota, e no fundo gostava da presença dele, porque era naquele sorriso que ela se sentia bem. Mas como uma verdadeira idiota que era, bastavam só mais 5 segundos pra sair gritando o já comum "SAIIII DA MINHA VIDA", com os bracinhos pra cima, no mais clássico estilo "desenho animado".

"Porque não arranja novos amigos? Porque não vai visitar a namoradinha perfeita que mora longe? PORQUE TEM QUE SEGUIR AQUI?"

Mas ela esquecia do que precisava realmente esquecer, e abria os braços pra recebê-lo, como sempre fazia (e não seria sensacional se os abraços durassem mais tempo?).
Era incrível a facilidade que ele tinha de fazê-la sorrir, E QUE ÓDIO, ela não queria sorrir!

Tudo que ela fazia era sair de casa pra tentar esquecer. Afinal, essa era a primeira e ÚNICA regra do manual de superação: NÃO ARRUMAR TEMPO LIVRE PRA PENSAR BESTEIRA.
E lá ia de novo, todos os dias, não importava onde e nem com quem.
Diferentes filmes, lugares, copos, sorrisos, lábios, músicas, corpos, e nada era o bastante, porque era tudo "durex". E durex não cola bem, durex solta, durex não segura um coração partido.
Voltava pra casa em busca da super bonder, mas nunca encontrava, sempre tava em falta.

E sabe o que era pior?
É que nos momentos em que ele estava presente é que ela conseguia ver, de verdade, que tudo podia ficar bem.
Por mais absurdo que parecesse, odiava sair pra "esquecer" porque ele nunca estava junto, sorrindo, como ela sempre gostava de ver.
Era ali que tudo voltava a fazer sentido, e já não importava o ódio, a mágoa, ou qualquer atitude que provasse o quanto ela era idiota.
No fundo ela não odiava ELE.

Só odiava saber que ele era mesmo "o cara mais afudê do mundo" como SEMPRE achou, desde o primeiro oi, e todo o ódio por ELE era inútil, fantasioso, inventado, feito pra ela ter algum motivo pra "se sentir mal".
Ele não era RUIM.
Ruim era ela tentando arrumar motivo pra curar uma ferida que talvez ela mesma tivesse criado.

Talvez fosse isso mesmo.
E era nessas horas que via o quanto ainda tinha que caminhar pra conseguir amadurecer.

Que droga que é virar "gente grande"!

3 comentários:

Anônimo disse...

Olá Renuska!

Adorei seu blog, já estou seguindo! Abs!

Rodrigo disse...

um dos teus melhores textos.
;)

Amyh disse...

Nossa parece que vc ta contado a minha vida... incrivel!
Parabens amo seu blog =)