segunda-feira, 29 de setembro de 2008

"é forte, mas passageiro. vem pra te ensinar".

Um dia nasci. E foi caótico. Minha mãe quase morreu (isso é sério), eu era horrível (também é sério). Até hoje ela conta que a primeira pergunta que fez ao médico foi: “ela vai mudar, né?”.
Cresci, me mudei, bolei um sotaque diferente do lugar onde morava, era magrela e MUITO estranha. Voltei, engordei muito, reencontrei o que num futuro se tornariam grandes amigos.
Na realidade, sempre fui a mesma. Mudei muito a “apresentação”, mas o recheio nunca mudou demais, na real. Era sempre igual. Chegava em casa, e jogava o dia todo fora vendo muita TV.
Nunca fui a melhor aluna da classe, tinha notas péssimas e quase mensalmente meus pais eram chamados na coordenação por motivos variados (corrigir/xingar-de-leve a professora porque ela falou errado, pular a janela pra ajudar uma colega, nota baixa, muita conversa, desligar todos bebedouros da escola por achar a água “muito gelada”, enfim).
Achava minha família diferente das demais. Almoçávamos às 13h, enquanto todos meus colegas já tinham comido. Por anos cheguei atrasada na Educação Física, porque as aulas eram marcadas pras 13h30, e nessa hora eu estava recém levantando da mesa. Minha mãe cantava muito alto pelos corredores do prédio, e usava palavrões em diálogos diários. Eu achava isso absolutamente normal, mas estranhava que nenhuma mãe fazia igual. Meu pai inventava uns pratos com abacaxi, maçã, molhos doidos. Eu pensava que talvez seria legal ser normal e comer um bife com arroz, como minha vizinha de porta comia.
A real é que nunca me dei conta, mas isso tudo acabou formando uma personalidade muito louca em mim. Era cômico porque os pais dos meus amigos achavam minha família muito “moderninha”, e às vezes mandavam eles pararem de falar “como a Renata fala”.

Demorei pra achar alguém que tivesse algum ambiente como o meu. Demorei pra falar pra mim mesma “olha, acho que era alguém assim que eu tava precisando”.

De 2001 a 2004, passei por sérios problemas. Fui a preocupação da casa, mas não vem ao caso.
Em 2005, quando entrei na faculdade, ganhei um tapinha nas costas. Passar numa faculdade federal nunca foi uma vontade, parecia mais uma obrigação. Não segui a regra. Entrei numa particular, que com o tempo “passou na frente” da federal por razões diversas. Nunca fui a filha perfeita. Tentava fazer minha obrigação de estudante, enquanto tinha que ouvir calada os diversos elogios ao meu irmão, que era o gênio da família. Justo.

Com o tempo comecei a mudar. Mudar o pacote, o recheio, tudo. Na realidade essa mudança começou em 2001. Mudei de colégio e lembro que alguns amigos não me reconheciam mais. Pintei o cabelo, emagreci, passei a ser quase outra pessoa, a ter mais confiança, mesmo parecendo insegura. Assim foi por anos.
Sempre fui metida a forte. De todas minhas amigas, eu era a “machona”, a que enxugava as lágrimas das outras e nunca chorava. Frases do tipo “homem não me engana”/”amor é uma besteira”/”nunca vou casar” eram chatas de tão repetitivas. Mas eu acreditava nisso. Acostumei a ficar sozinha, a ser sozinha. Me bastava. Sabia e gostava de aproveitar um dia só comigo. Às vezes me irritava ficar em volta de muita gente, ou de uma só. Precisava ficar quieta, ler um livro, ver filmes bons, ouvir música sem ninguém me atrapalhar (coisa que mais gosto de fazer até hoje, fato).
Não canso de repetir o quanto o ano de 2007 me transformou e me deixou melhor. Sempre fui a preguiçosa, que não levantava um dedo pra mostrar que era responsável. Sempre preferi brincar a lavar a louça, usar o computador a arrumar a cama.
Algumas prioridades mudaram.

Mas 2008... 2008 me transformou em tudo o que não era. Tudo.
Hoje dói pra respirar, e respiro fundo. Hoje bato na mesma tecla, acordo e vou dormir pensando só como posso fazer melhor no dia de amanhã. Meus olhos enchem d’água pelo menos uma vez por dia, e nessa hora o peito arde. Sinto falta de uma companhia que possa rir comigo dos momentos mais absurdos, coisa que NUNCA senti antes, porque claro, me bastava. Eu ria sozinha quando minha mãe caía, meu pai levava um susto com o fogão, algum amigo tropeçava na rua. Hoje eu sinto necessidade de rir junto de alguém que entenda que esse humor, que antes diziam que era “diferente” e meio doentio, não é tão estranho assim.

Gosto de analisar as coisas. Penso duas vezes antes de dar o primeiro passo, antes de decidir se vou em frente ou dobro a esquina. Gosto de ver as pessoas na rua e observar como todo mundo é tão frágil como eu. Às vezes caminho no ritmo de uma música inventada na minha cabeça, que se perde nos meus pensamentos velhos, por não ter como sair.

Sim, eu escrevi tudo isso pra mostrar que hoje sou completamente diferente de tudo aquilo que foi “lapidado” pelo que chamam de Deus há 20 anos atrás. Um ano me fez ser o que um dia eu odiei, mas hoje até gosto.
Não sei o que vai ser de mim em 2009. Pra falar a verdade, não sei o que vai ser de mim amanhã. Mais uma vez eu vou deitar a cabeça no travesseiro e pensar no que posso fazer pra melhorar meu dias, o que pode mudar pra que não role de ficar com o olho embaçado por 5 segundos.
Eu, mais que ninguém, quero seguir em frente e dizer pro próximo da fila imaginária que estou muito bem. Que o estrago na verdade foi uma melhora, um tipo de terapia que começou confusa, e terminou colocando tudo “nos eixos”. Quero poder rir e pensar “não, não faz falta”.
Todos me dizem “isso passa. Logo tu melhora”. Mas a espera pro passar, como fica? E como fica a análise da realidade enquanto isso? Pior, pense na união das duas. A espera enquanto olho a realidade. Será que já pararam pra pensar o quanto isso dói?
O que dá direito a alguém entrar na tua vida, bagunçar um poucado, e sair achando que não mudou muita coisa? Mudou muito. E talvez isso faça tudo mais interessante, o simples fato que uma coisa que não é minha, que não faz parte do meu “circulo de vida”, ter feito tanto “estrago”.
A parte engraçada? É que na realidade, só consigo ver um estrago bom. A merda, a cabeça no vaso, a parte do ser humano ter se ralado, eu só vejo em poucas partes do dia. Na maioria do tempo dou risada sozinha, me vendo diferente enquanto falo/faço coisas totalmente anormais do meu comum.
Mesmo com toda a confusão, mesmo sem eu saber o que to fazendo, mesmo me achando idiota 90% do dia, mesmo eu falando/sentindo quase sozinha... eu sei.
Então, só te digo isso: obrigada.

A mudança que tu causou na minha vida é absurda. Se for pra reparar desde quando te conheci até hoje, chega a ser gritante. Sou outra pessoa, e infinitamente grata por tudo o que aprendi. Às vezes só observando consegui pegar algumas coisas, e isso é sensacional. Acho que nunca ninguém causou tanto impacto em mim, e talvez por isso eu te respeite tanto, te coloque lá no alto, como umas das coisas mas importantes que já apareceram por aqui.
Então, se um dia tu tiver tendo uma crise existencial e pensar “nossa, será que já mudei a vida de alguém?” Bom, mudou a minha, e não foi pouco.
Valeu aí por me mostrar um lado meu que eu nem sabia que existia, por me fazer passar por situações fantásticas, por me fazer tão bem mesmo às vezes me fazendo querer acabar com o mundo.
Pessoas assim é que eu gosto, que quero que passem por mim sempre. Pessoas que me mostram o pior e o melhor. Mesmo que não fiquem pra sempre.

3 comentários:

Carla P.S. disse...

Pessoas nasceram pra isso: bagunçar nossa cama e depois ir embora. Nós que arruamos a cama, tiramos as taças de vinho do chão, lavamos a louça...Mas a visita sempre será bem-vinda, sabemos disso. Que o teu apartamento nunca esteja germanicamente intacto! Que tu tenhas lágrimas mas, acima de tudo, profundidade, pra fazerem teus velhos cds valerem a pena. Brindemos.
(loko/)
beijão!

iarashi disse...

que lindo q voce postou isso aqui tb.

sabe ...
uma das melhores 'autobiografias resumidas' que já li.





daqueles textos que tocam lá no fundo..sabe?
HAHAHA
tchamo.

Iuri, Prazer. disse...

Tudo isso pra dizer que você tá sofrendo por um carinha, você de fato é jornalista.

Mas acredite que por aí sempre tem alguem que vai te fazer pior, e não desista ainda, você ainda vai amar muito denovo, e vai sofrer as well, mas é assim que as coisas são, pra mim a vida sem drama perde o sal, o drama é o ajinomoto do meu dia-a-dia.

E caramba, agora que vi que esse post é de 2 meses atrás quase, chances 0 de você ler, praticamente uAEHAUHEU